Jornalismo cultural como ferramenta para reflexão



Por Eliane Fátima Corti Bassos
Tem-se convencionado como Jornalismo Cultural uma especialização que nasce das necessidades da imprensa em atender a um público segmentado, mas seu recorte temático, apesar de depender das dimensões do projeto editorial e o segmento de público para o qual se destina, vai muito além, ou pode ir, da divulgação das artes, como muitos costumam tratar, ou então, da veiculação do entretenimento.
Conceitualmente, o Jornalismo Cultural como preconiza o jornalista e pesquisador argentino Jorge Rivera, em “El Periodismo Cultural”, ajustou-se a duas concepções básicas de cultura: a ilustrada e a antropológica. Portanto, oscila entre um sentido restrito e um total. A ilustrada, de acordo com o teórico Edgar Morin, em “Cultura de massas no século XX – Necrose”, – centra a cultura nas humanidades clássicas e no gosto literário-artístico. Do ponto de vista antropológico, ela passa a ser vista como a organização de um povo, seus costumes e tradições transmitidas de geração em geração a partir de uma vivência comum. O crítico literário e ensaísta Alfredo Bosi, em “Dialética da Colonização”, explica cultura como “conjunto de modos de ser, viver, pensar e falar de uma dada formação social”. Deste modo, passa a ser entendida como um elemento comum e universal, inserida em tudo que o homem faz para melhorar sua condição de vida.
Assim, o Jornalismo Cultural ajustou-se a uma mescla ampla e variada que busca difundir os patrimônios culturais do conhecimento em esferas variadas em que a cultura passa a ter uma visão mais integradora. Para Rivera, tem-se definido como Jornalismo Cultural: “[…] uma zona muito complexa e heterogênea de meios, gêneros e produtos que abordam com propósitos criativos, críticos, reprodutivos ou de divulgação os terrenos das ‘belas artes’, as ‘belas letras’, as correntes do pensamento, as ciências sociais e humanas, a chamada cultura popular e muitos outros aspectos que têm a ver com a produção, circulação e consumo de bens simbólicos, sem importar sua origem e destinação” [5]. Desta forma, tende a superar o prisma da dicotomia entre os campos da produção simbólica; de elite e popular, evidenciando a difusão (papel do jornalista cultural) e a análise crítica das culturas (papel do crítico de cultura) – formatando um fórum público de manifestação do pensamento, em que estão presentes a produção jornalística e a intelectual.
A esse Jornalismo Cultural cabe o papel de levar à análise e à interpretação de forma a dar subsídios para o leitor para que possa refletir, através das artes e da produção cultural, as formas de organização da sociedade. À parte expor a filosofia estética de uma obra, por exemplo, cabe também a reflexão sobre as circunstâncias sociais e históricas em que foi concebida no sentido de apresentar a obra como um processo cultural, na tentativa de captar o movimento vivo das idéias, e não apenas como produto.
Eliane Fátima Corti Bassos é jornalista e membro da coordenação nacional do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social.
Retirado do blog Cultura e Pensamento.



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