De como fugir do lide com classe




Por Renan Simão

Há décadas sustenta-se uma discussão sobre os pontos de junção entre jornalismo e literatura. Os resultados são livros-reportagens, romances não-ficcionais, narrativas com utilização de recursos literários, etc. No jornalismo impresso, não raro, busca-se mecanismos da literatura para apresentar um texto mais interpretativo e reflexivo e assim atrair o leitor.

O escritor e colunista do jornal “O Globo”, Joaquim Ferreira dos Santos, acredita que a escrita literária e a jornalística devem ser usadas de um modo equilibrado.  “Vejo muitos repórteres iniciantes tentando fazer um texto diferente, estiloso. No final, eles criam aquele ‘nariz de cera’, um parágrafo de introdução sem nenhuma informação factual para o leitor.” Joaquim admite que, quando jovem, saiu-se “ridículo” ao tentar imitar a escrita de Gay Talese (expoente do jornalismo literário) em uma matéria estritamente factual.

Embora o jornalismo impresso tenha a natureza factual, a internet provê informações em tempo real e em muitas vezes desbanca os grandes furos de reportagem. “Eu não preciso saber de tudo. O impresso está muito pesado, redundante. O leitor de jornal em papel quer cada vez mais ler uma boa história do que saber o que já foi mostrado na internet ou na TV”, aponta Joaquim. Para ele esse é um caminho para o uso das técnicas literárias no jornalismo.  

Dentro do jornal impresso existem seções delimitadas a um tipo específico de escrita. As colunas são a opinião do jornal, elas interpretam a notícia. Essa é a principal diferença entre a coluna e a crônica. O cronista possui total liberdade sobre o conteúdo da sua seção, não é amarrado ao factual. Nos dois estilos citados e nas grandes reportagens há espaço para uma escrita mais literária.

O escritor e colunista do jornal Folha de São Paulo, Carlos Heitor Cony, fala que a internet é apenas mais uma ferramenta de mídia e que ainda o jornal impresso precisa, mais do que nunca, do jornalista. “Vejo que falta o faro, o tesão, o serviço. Eu conheci um repórter que não sabia escrever e foi dos melhores repórteres que vi. Fazia furos jornalísticos incríveis, tinha tesão.”, conta Cony. Para o escritor, os recursos da literatura têm lugar no jornalismo, desde que estejam juntos da apuração da notícia.

Apesar da grande quantidade de denominações sobre a fusão entre jornalismo e literatura, para Paulo Franchetti, professor de teoria literária da Unicamp, o título não importa: “Gênero não define qualidade. Esses recursos de linguagem não são ruins desde que sejam submetidos à pauta e ao espaço da mídia”. O leitor quer um bom texto, sendo jornalismo literário ou não. O nome pouco importa.  

Texto produzido durante palestras do 2º Congresso de Jornalismo Cultural da Revista Cult, em maio de 2010.






0 comentários:

Postar um comentário